COISAS E LOAS II
Em Pinheiro, como em todo Maranhão, minam “poetas”. Poetas imberbes, amadores, ingênuos, líricos, satíricos, ébrios, loucos, caducos, endiabrados e mil e uma categorias.
Nessa perspectiva, há de haver as mais diversas formas de “poesia”. O que é nenhuma novidade.
Assim, encontramos a onipresença da “poesia” em pilhérias e em conversas soltas. Em conquistas e em concursos escolares.
Nesse primeiro universo, os PESSOA relatavam alguns “causos” com maestria. Tio Zé narrava uma “zanga” entre dois contendores, ébrios e poéticos, que buscavam apresentar-se como o mais forte “de unszozoutro”. Assim “se deu” o etílico combate. “Minha mão tem cinco dedo, cada dedo é cinco queda, cada queda é cinco p….” Ao que o oponente retrucava, “apimentando” ainda mais a contenda. “Te dou um tapa que teu ouvido sai ‘zunino’. Tua boca ‘abrino’ e ‘fechano’, e teu c. ‘fechano’ e ‘abrino”. “A galera ia à loucura”.
Já tio Inácio apresentava o embate entre um “saliente” e uma bela garota desinibida, que “não lhe dava bola”. Batalha difícil, em que a garota, “achando-se a tal”, não acabou muito bem na “fita”. Ela inicia os gracejos, após ser “provocada”, demonstrando o seu total desprezo pelo pretendente. “Cabeça grande cheia de caspa, dá um ‘arqueire’, quando se ‘rapa'”. Ao que ele retruca, com sua fina ironia. “Cintura fina, bunda não tem e outras ‘coisinhas’, que sei também”. Aí, como dizem, “se ferrou-se”, numa época em que “coisinhas” “valiam muita coisa”.
Já, no universo escolar, sem os sonetos, rondós, haicais, éclogas, odes, baladas e … “poemas a quatro”, dizem as boas línguas, eu não invento, que houve um concurso de “versos pé quebrado”, em uma certa época, no Colégio Pinheirense. Verdadeiramente, não presenciei tão nobre evento e espero está sendo fiel aos fatos. Quem, por ventura, conhecer seus autores, mandem-me.
O certo é que surgiram pérolas. Pérolas, que vão além da mera poesia. Pérolas, que marcam nosso povo em sua mais autêntica veia poética. Com preciosidades do calibre de “Subi no pé de banana, pra ver meu amor passar. Meu amor não veio, cortei a bananeira”; “Progresso chegando, regresso saindo. Te afasta regresso, que progresso chegou”. “Lá vem a lua saindo, branquinha como um leite, se virá coalhada, nois come”. Mas, o ápice desses motejos traduz-se no fantástico: “No Refúgio não tá da gente se fiar. Roubaro o patacho do seu Filozinho, e ele não pôde comprá outro”. Haja poesia!
Santa poesia!
Zé Carlos